Santos, o Maior de todos: Primeiro Bicampeão Mundial de Clubes da História

Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro ( em pé )Dorval,Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe ( agachados)

 Péris Ribeiro

          Em toda a história do futebol, nunca um time teve um reinado tão longo e glorioso como o Santos da Era Pelé. Foram 16 longos anos – ou seja, uma década e meia -, tempo suficiente para que o esquadrão da Vila Belmiro encantasse o mundo de ponta a ponta, chegando ao inacreditável recorde de 48 títulos de campeão – 25 deles, pelo menos, em competições internacionais.

Apesar de o festejado bicampeonato mundial ter ocorrido nas temporadas de 1962/63, o ano dourado do Rei Pelé e Cia foi mesmo o de 1968.  Nele, foram conquistados nada menos de oito títulos – outro recorde histórico -, figurando como maiores destaques o Campeonato Brasileiro – na época, chamado de Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Ou Robertão -, o Octogonal Internacional do Chile, o Pentagonal de Buenos Aires e as Recopas Sul-Americana e Mundial de Clubes.

Exibindo, onde quer que jogasse, o tão proclamado estilo refinado dos seus craques, o que aquele Santos sempre fazia questão de deixar evidenciada era uma espécie de comprometimento nobre. E esse comprometimento falava do dever – e da seriedade – de entrar em campo para  ganhar os seus jogos. E, ganhando, isso significava ser campeão quase sempre. Daí as muitas conquistas, o rosário de títulos pelos cinco Continentes.

O mais incrível nessa história toda é que, apesar das dores musculares e de algumas contusões que, volta e meia, acabavam por incomodá-lo – além dos tradicionais resmungos de contrariedade, pois o excesso de jogos era cada vez mais frequente -, nem o próprio Pelé, muito menos Coutinho, Gilmar, Pepe, Edu, Carlos Alberto Torres ou Ramos Delgado, eram capazes de dizer “não” aos mais variados tipos de competições em que viviam se metendo.

É que tudo aquilo era de lei, não havia como fugir. E o que eles tinham então a fazer, felizes ou não, era vestir o uniforme imaculadamente branco santista e entrar em campo. Afinal, era isso o que os cruéis e rigorosos contratos exigiam. Menos mal, é que o time seguia ganhando quase sempre. Daí aqueles estranhos títulos que, de repente, o consagrado Esquadrão da Vila passou a exibir. Era Santos, campeão do Octogonal de Santiago do Chile pra lá; Santos, campeão do Hexagonal de Buenos Aires pra cá; Santos, campeão do Pentagonal de Guadalajara, no México…

– Pois é, minha gente, eu sei bem como tudo isso é difícil. Mas, mesmo em meio a todas essas dificuldades que temos sempre de superar, nunca deixamos de ver e amar o futebol como a melhor coisa do mundo. E é esse sentimento, que procuramos passar aos povos que conhecemos. Jogue a gente em que estádio jogar – disse Pelé, certa vez, mesmo extenuado após mais uma vitória do Santos, cumprindo outra alucinante maratona de jogos por vários países da Ásia.

É bem verdade que, pela imponência que emanava do estilo único daquele mágico Santos, aqueles eram os típicos torneios para serem disputados, sempre, em Paris – em pleno Parc des Princes.  Quando muito, em Roma, Madrid, Cidade do México ou Lisboa. Mas, e os múltiplos, e quase sempre escusos, interesses dos cartolas e empresários? O que fazer, senão seguir na irracional roda-viva por países e estádios, enfrentando adversários cada vez mais inesperados?

Afinal, era dos cartolas e empresários, apenas deles e mais ninguém, a ideia de um novo Pentagonal na longínqua Costa Rica. E ainda houve quem programasse uma surpreendente chegada à, então, desconhecida cidade de Kingston. Sendo que foi lá, sob um calor de mais de 40 graus, que o exaurido time brasileiro participou do modesto Torneio Triangular da Jamaica. Por estranha – e  infeliz – ironia, a competição que iria proporcionar o último título internacional de campeão, ao inigualável Santos de Pelé e sua troupe de gênios.

Passados, hoje, quase 50 anos daquele formidável  legado de glórias, o que fica nos remoendo a imaginação é uma certa  inquietude, uma  incômoda impressão. Talvez, a dolorosa certeza de que aquele Santos genial, o Santos do Rei Pelé e do capitão Carlos Alberto Torres, de Clodoaldo, Edu, Lima, Tonlnho Guerreiro, Ramos Delgado e tantos outros artistas da bola, poderia muito bem ter durado um tanto mais. O que matou-o, foi a ganância dos cartolas.

Como consolo, o que ficou para os que o viram jogar – como negar? – foi um verdadeiro presente dos deuses. Porém, para os que não o viram, não custa nada imaginar. E sonhar, sonhar …

( Maio / 2017 )

***

 

 

 

* Péris Ribeiro é jornalista e escritor.  E autor de  “Didi, o Gênio da Folha-Seca”, ganhador do I Prêmio João Saldanha de Jornalismo Esportivo (2011), como o  Melhor Livro do Ano

Deixe um comentário